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Um mundo à espera dos contadores tipo exportação

As qualificações não se referem apenas a aspectos técnicos.

Autor: Lara ElyFonte: Jornal do Comércio

 

Trabalhar com auditoria e consultoria contábil no exterior parece ter uma recompensa à altura de seus desafios. Os altos salários, o plano de carreira, além de treinamento e qualificação constantes, são apenas parte dos benefícios. Somado a isso, a constate tarefa de tomar decisões em nível internacional e a completa falta de rotina no ambiente corporativo fazem deste trabalho um dos preferidos pelos jovens contadores.

Prova disso é um recente estudo promovido pelo instituto sueco Universum, que mostrou que, depois do Google, as quatro maiores empresas de auditoria do mundo - KPMG, Ernst & Young, PWC e Deloitte - estão entre as cinco companhias do mundo mais atraentes para se trabalhar. Mais do que coroar o esforço e trajetória merecidos dessas companhias, o estudo deflagra um novo e crescente cenário de oportunidades para os profissionais contábeis: a contabilidade internacional. 

O ranking do Universum, instituto especializado em serviços de pesquisa, consultoria estratégia e soluções que permitam que os empregadores compreendam melhor, atraiam e mantenham os funcionários, aponta as 50 empregadoras mais atraentes na visão de 130 mil profissionais. 

Os rankings estão baseados nas opiniões de cerca de 130 mil estudantes das principais instituições acadêmicas do mundo em 12 economias de destaque - Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Brasil, Espanha, Canadá, Rússia e Índia. 

Na opinião do presidente do Universum, Michal Kalinowski, 2010 foi um bom ano para o setor de auditoria, já que as quatro principais empresas ocuparam quatro dos cinco primeiros lugares do ranking. Segundo ele, as firmas de auditoria e as companhias de produtos de consumo de grande saída estão reconquistando seus talentos, que andaram flertando com a indústria de tecnologia da informação.

As corporações multinacionais estão mais cientes dos desafios atuais e futuros de uma força de trabalho cada vez mais reduzida. Para reter e assegurar o fluxo de talentos, as empresas precisam desenvolver uma estratégia de atração desses profissionais e de consolidação de sua marca, aconselha Kalinowski. 

Portas abertas para a liderança

Cenário desafiador, funcionários expostos a empresários de nível internacional, contato muito próximo com os executivos, assim é o ambiente de trabalho da KPMG. Aliado ao desenvolvimento profissional e às recompensas salariais, ele é um dos principais atrativos para os seus 140 mil colaboradores, que estão espalhados por 146 países no mundo – no Brasil são 2.700. A opinião é da diretora de Recursos Humanos Adriana Zanni. 

“Desde que entra na empresa, o profissional é direcionado para o desenvolvimento de carreira, recebendo diversos treinamentos desde cedo”, afirma. 

As qualificações não se referem apenas a aspectos técnicos. Os funcionários recebem treinamentos comportamentais, o que, na opinião de Adriana, é decisivo para o crescimento dos funcionários na empresa. “Aqui, temos a remuneração muito focada na meritocracia. Isso tem tornado a gente uma das empresas mais interessantes”, explica. 

Transparência nos relacionamentos, o foco no ganha-ganha, trabalho em time e uma política de portas abertas com os gestores e líderes são características que acabam sendo adquiridas - ou formadas - por estas grandes companhias que atuam em ritmo, escala e interação global. “Quanto mais você expõe os jovens a essa internacionalização, mais você reforça esses valores”, afirma. 

Para o presidente da KPMG no Brasil, Pedro Melo, a classificação obtida na pesquisa demonstra que os estudantes reconhecem o importante papel desempenhado pela organização, em um ambiente de negócios global e complexo como o atual. “Nosso foco no desenvolvimento da multidisciplinaridade e da possibilidade de vivencia de valores também foram reconhecidos pelos entrevistados nesta pesquisa”, afirma.  

Dentre os pré-requisitos necessários para atuar na organização, as competências de saber trabalhar em equipe, relacionar-se bem e ser curioso estão entre as características mais importantes. Gostar de estudar e ser uma pessoa disponível para o aprendizado e mudança de rotina são outros fatores. Ainda entre os diferenciais da empresa, destaca-se o programa de intercâmbio exclusivo para trainees Global Intership Program, um estágio internacional de três meses. 


Da vestimenta à forma de falar

Cada detalhes do comportamento é observado pelos headhunters que trabalham em uma grande empresa de auditoria. O comprometimento com o foco na carreira é um aspecto que a equipe de seleção percebe logo de cara. Mesmo priorizando candidatos com esse perfil, a equipe de recrutamento de novos funcionários da Deloitte não contrata profissionais prontos, mas em fase de formação. 

Como a empresa não oferece um emprego - e sim um plano de carreira - ela se responsabiliza for formar esse profissional e servir de escola para seu amadurecimento.  

Quem entra na empresa não precisa saber de cor as últimas novidades das normas internacionais de contabilidade - os IFRS. “Este não é um pré-requisito. Faz parte dos treinamentos que damos”, explica a gerente nacional de recrutamento e diversidade da Deloitte, Ellen Macedo. O primeiro desafio, segundo ela, é sair do mundo da faculdade e entrar no mundo corporativo. “No treinamento tem que orientar os comportamentos para agir em um novo mundo. Mudança de cenário, sair do cenário universitário, e incorporar a postura de um profissional que pertence a uma empresa global”, explica. Para se comunicar com este público-alvo, a empresa foi inclusive levada a seguir o caminho da convergência digital e aderiu às mídias sociais, criando perfis no Facebook e no Twitter. 

Mas não é só no começo da carreira que os treinamentos acontecem. Eles acompanham os funcionários em todas etapas dentro da organização. Todos os anos ocorrem treinamentos de reciclagem que atingem toda a empresa, de ponta a ponta da gestão - desde os sócios aos profissionais que ainda estão na universidade, sem muita experiência. 

O que torna a Delloite uma das empresas mais atrativas para trabalhar no mundo envolve seu processo de gestão. Gerenciar clientes, equipes, com salários e benefícios inerentes a função, e a oportunidade de se tornar um gerente sênior, diretor e até sócio da empresa - o País conta com 136 sócios. Essa é uma das explicações de Ellen. 

Outro motivo seria o fato de o profissional já ser contrato diretamente, sem passar por etapas como o estágio ou o trainee. “Efetivamos todos os que entram na empresa. O profissional entra na empresa e já é alocado em uma das seis áreas em 11 escritórios e 140 países”, explica ela. 

O céu é o limite

Ontem na indústria de varejo, hoje na instituição financeira, amanhã em uma metalúrgica. Janeiro no Brasil, junho em Cingapura, outubro no Chile. Mobilidade, dinâmica e ausência de rotina são características clássicas do trabalho em auditoria. Diante desta diversidade de cenários, idiomas e ambientes corporativos, estar pronto para tomada de decisões é indispensável para um funcionário de uma empresa de auditoria.

Outro desafio é a cobrança sobre a evolução no idioma inglês. Fora isso, estar atento às novidades legais é uma obrigação, mas desde que os padrões da contabilidade brasileira alinharam-se ao padrão global, essa dificuldade caiu por terra: os padrões de trabalho da firma são iguais em qualquer lugar do mundo. 

Ao recrutar novos colaboradores, a PricewaterhouseCoopers mira na vontade de trabalhar, identidade com a cultura da empresa e foco no plano de carreira. Pequenos na lista, mas complexos na seleção, os requisitos pretendidos pela companhia são avaliados durante rigoroso processo de seleção. Nele, não é avaliada a capacidade técnica, mas os atributos pessoais. “Avaliamos o potencial do candidato como indivíduo. Treinamento e ferramentas para trabalhar se dá internamente, após a seleção”, afirma Carlos Biedermann, sócio da PwC - Brasil e líder da companhia na região Sul. 

Na PwC, as limitações para o crescimento ficam a cargo da capacidade do indivíduo e da existência de mercado. O crescimento dentro da carreira está relacionado a estas variáveis. Para oportunizar essa evolução, fortes doses de treinamentos e desenvolvimento pessoal são não apenas oferecidos como exigidos dos funcionários. 

“A nossa quantidade de treinamento é muito maior do que a média das empresas”, afirma Biedermann. A possibilidade de formação de network -

a rede de contatos profissionais - e a ausência de rotina são outros atrativos da empresa. “O relacionamento com os públicos interno e externo é diferenciado e crescente”, afirma.  

Sempre existe forma de melhorar, e por isso, a PwC mantém práticas de monitoramento diário para qualificar seu corpo funcional. Pensando nisso, também não deixa de lado o bem-estar de seus funcionários, e, por isso, investe pesado na qualidade de vida. Além de cada pessoa na firma ter o seu coach (uma espécie de tutor, que ajuda a pessoa a evoluir), permite o colaborador levar os seus temas pessoais e discutir. 

Exemplo disso é uma funcionária da região Sul que após dar a luz quadrigêmeos, teve a sua função e horário de trabalho adaptados para dar atenção à família e continuar trabalhando. Presente em 150 países, a PWC possui 13 escritórios no Brasil e 4 na Região Sul. No Brasil são 4,5 mil funcionários e no mundo, 150 mil.